O ENGANO DO PRÊMIO DE BALAÃO

 

Gostaríamos, na graça do Senhor e na força do seu Espírito, compartilhar em três meditações o texto de Judas, no verso 11, que diz: "Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré". Na meditação anterior vimos sobre o caminho de Caim, nesta meditação vamos ver sobre o engano do prêmio de Balaão.

Talvez este assunto possa ferir algumas pessoas, mas isto só irá mostrar a conformidade de alguns chamados cristãos, com os mesmos caminhos, enganos e contradições em suas vidas. Judas escreveu estas palavras há quase 2 mil anos, para que os irmãos pelejassem com ele pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos. Porque naquela época tinham se introduzido homens ímpios, que já antes estava escrito para este mesmo juízo, que estavam dissolvendo a graça de Deus, e negando o único soberano e Senhor nosso: Jesus Cristo (v.3). Se já era assim naquele tempo, que diremos hoje!

O livro de Números, nos capítulos 22 a 24 nos fala de Balaão. Balaão foi um profeta comprado por Balaque, rei dos moabitas. Balaão era um profeta que profetizava por dinheiro, e recebeu uma paga para amaldiçoar o povo de Israel. Em Apocalipse, capítulo 2, no verso 14 diz que ele ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem.

Como Balaão foi impedido por Deus de amaldiçoar o povo de Israel, então para que não perdesse a sua paga, ensinou a Balaque que fizesse com que o povo de Israel se prostituísse com as mulheres moabitas, e daí fizesse com que eles se prostrassem diante dos seus deuses: "E Israel deteve-se em Sitim e o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses" Números 25.1-2.

Judas usa a expressão "foram levados pelo engano do prêmio de Balaão", e Jesus diz a Igreja de Pérgamo que ele "ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem". Mas ambos estão se referindo a uma só coisa, a profetas que recebem prêmio, recebem paga ou salário para profetizarem, e com isto, lançam tropeço aos filhos de Deus; isto para que se prostituam com outros mulheres, que não a virgem pura, mas as meretrizes da terra (Apoc. 17.5).

Não há um lugar nas Escrituras que diz que um profeta deve receber salário para profetizar. Quando Jesus disse que "digno é o obreiro do seu salário" não estava dizendo que um obreiro deve trabalhar por salário, mas que por onde passasse seria cuidado pelos irmãos: "Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos, nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento" Mateus 10.9-10.

A provisão para os que pregam a Palavra deve vir do coração voluntário dos próprios irmãos, pelo mover do Senhor em seus corações (Êx. 25.2), e não de uma paga. O Senhor diz que aquele que recebe um salário como paga, o recebe como dívida e não como dádiva (Rom. 4.4-5). E quanto a isto Jesus disse: "de graça recebestes, de graça dai" (Mat. 10.8). Jesus diz isto porque toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, do Pai das luzes (Tg.1.18). Toda dádiva para ser uma bem-aventurança deve vir do alto, de Deus.

Por isso é que no final da caminhada com os seus discípulos Ele lhes perguntou: "E disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada" Lucas 22.35. Na casa do Senhor nunca faltará sustento para o servo, isto porque quando alguém é chamado para o ministério do Senhor não é chamado como escravo, mas como amigo, ainda que ele sirva. Mesmo se fosse um escravo não ficaria sem receber o alimento do seu bom senhor.

O ministério é uma relação de amor entre o servo e o seu Senhor, e não uma troca de favores a qual um paga e o outro cumpre. Somos servos por amor de Jesus e não para cumprir uma tarefa pela qual estamos sendo pago. Todo aquele que recebe salário para profetizar, com toda certeza está andando pelo engano do prêmio de Balaão e lançando tropeço para que o povo se prostitua.

E no texto de Judas acima, mostra que são homens que entraram pelo caminho de Caim, onde a salvação está no homem e se dá pelas obras; e para estabelecerem isto, recebem salário para fazerem o povo se prostituir. Mas há algo também que devemos notar no texto de Apocalipse capítulo 2, nos versos 14 e 15, que a doutrina de Balaão segue junto à doutrina dos nicolaítas.

Isto porque todo aquele que recebe salário para profetizar é considerado alguém especial, diferenciado dos outros. A doutrina dos nicolaítas ensina que a Igreja está dividida em dois grupos de pessoas: os nicos, os especiais, os espirituais, os principais, e o laico, o laicado, o resto do povo. É fácil notar porque uma doutrina anda abraçada com a outra. Se dermos um prêmio para alguém profetizar é porque o diferenciamos dos outros, o consideramos alguém destacado em relação aos outros.

Um abismo vai chamando outro abismo como diz o Senhor. Primeiro começam a fazer diferenças entre os irmãos, depois desejam que aquele ou aqueles irmãos especiais ministrem. Daí desejam que sejam separados e para isto lhes pagam um salário. Aí os põem como líderes, e dividem o povo de Deus. Com as divisões o povo segue o homem e a sua doutrina e não o Senhor e a Sua Palavra. E chegam a tal ponto de dar nomes aos seus grupos para se diferenciarem dos outros.

Paulo disse que este dia chegaria, e que seriam tempos angustiosos: "Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências" II Timóteo 4.3-4.

Paulo anteviu, e exorta a Timóteo e a nós que este dia chegaria. Cerca de 30 anos depois, João escreveu o que Jesus lhe mostrou, que tinha alguns que já seguiam a doutrina dos nicolaítas. Creio que nos dias de hoje grande parte da dita cristandade vive seguindo a doutrina de Balaão e dos nicalaítas. Mas ainda é tempo de arrependimento para o povo de Deus: "Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca" Apocalipse 2.16.

Se há algum filho de Deus que segue por tradição essas doutrinas, deve se arrepender. Porque se recebemos um salário ou buscamos uma glória que provém do homem, onde estará o nosso galardão? Quando recebemos um salário para ministrar a Palavra de Deus já recebemos a nossa paga. E se cobiçamos coisas altivas, como cargos e benefícios, não há em nós um coração do Senhor, que nos amou e deu a vida pelos seus irmãos. Se formos infiéis no pouco, como Ele poderá nos colocar sobre o muito no seu Reino?

Se ministramos algo é porque o recebemos de Deus. E se o recebemos de Deus de graça, como podemos vendê-lo? E se consideramos como nossa própria, estaremos nos gloriando como se não tivéssemos recebido. A Palavra não vem de nós, mas ela vem a nós pela graça de Deus (I Cor. 4.7 e 14.36). Não há como se gloriar em nada, e muito menos fazer qualquer diferença entre irmãos. Se alguém recebe ou dá é pelo Senhor. Da sua mão recebemos e da sua mão é que damos (I Cro. 29.12 e 16). Qualquer que usurpar esta glória, lhe será cobrado naquele dia.

Aquele que ministra a Palavra não precisa se preocupar com o seu sustento, porque isto é cuidado daquele que o chamou. Ninguém vai à guerra às suas próprias custas. Se o Senhor chama alguém e o separa para o ministério, não é porque ele é alguém especial, ao contrário, é porque ele é inútil: "Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" Lucas 17.10. E porque é inútil em si mesmo não tem do que se gloriar: "Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele, ou presumirá a serra contra o que puxa por ela, como se o bordão movesse aos que o levantam, ou a vara levantasse como não sendo pau?" Isaías 10.15.

Que o temor do Senhor que foi colocado em nossos corações nos livre do mal. Mas como diz Judas, temos que pelejar pela fé que uma vez foi dada aos santos, porque muitos tem andado por este caminho; dissolvem a graça e negam o único Soberano e Senhor nosso: Jesus Cristo. Amém.

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