A RESTAURAÇÃO DE DEUS - PARTE XV

A PORTA DO VALE

 

A porta do vale foi a quarta porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 13 diz: "A porta do vale reparou-a Hanum e os moradores de Zanoa; estes a edificaram, e lhe levantaram as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos, como também mil côvados do muro, até a porta do monturo".

Na porta velha temos 12 homens reparando, mas na porta do vale apenas um homem, apenas Hanum é referido e os moradores de Zanoa. Hanum quer dizer favorecido e Zanoa quer dizer água suja. Zanoa era uma cidade que coube aos filhos de Judá, a tribo à qual Jesus descende (Jos. 15.34). O Senhor nos ensina com esses nomes que somos favorecidos com a água suja que encontramos no vale. Quando vemos esta água no vale é que damos valor à água pura que sai do trono de Deus, da água que quem beber dela nunca terá sede.

A porta do vale nos fala da vida de conhecimento mais profunda em Cristo. O que no monte recebemos como revelação de Deus, as coisas altas do Senhor na Sua Palavra, no vale é onde encontramos a nossa realidade, a realidade da Vida do Senhor Jesus em nós. Um exemplo disso é Moisés que subiu ao monte para ouvir ao Senhor, mas foi no vale que ele encontrou a realidade diante das circunstâncias. O monte representa a nossa vida de visão, e no vale a nossa experiência de conhecimento de Cristo.

Na verdade a nossa vida está para dentro dos muros, mas a nossa experiência está fora, no vale. Esta porta também tem fechaduras e ferrolhos porque Deus não vai manifestar o seu conhecimento ao mundo, mas vai nos levar a ao mundo para ganharmos conhecimento dEle naquilo que recebemos como ensinamento. Ele nos faz saber coisas grandes e ocultas que não sabemos (Jer. 33.3), mas é o vale, as tribulações, as aflições, as necessidades que irão nos fazer conhecê-Lo. É no vale que damos o verdadeiro fruto (Cant. 6.11).

Para dentro dos muros ouvimos sobre o Deus soberano e fiel, que não muda e é poderoso, mas no vale é que o conhecemos como o nosso Pastor que não nos deixa e não nos desampara, e que mesmo que cheguemos ao vale da sombra da morte, Ele está conosco. A sua vara e o seu cajado nos consola. É no vale que nós conhecemos que verdadeiramente a sua bondade e a sua misericórdia nos seguem todos os dias da nossa vida (Sal. 23).

O vale é o lugar de fertilidade, o lugar do fruto. Enquanto na Palavra, como em muitos lugares nos ensina que homens foram levados a altos montes para terem visão, a nós, a Sua Igreja, o Senhor também leva aos mesmos montes (Mat. 17.1, Apoc. 21.10). Mas é no vale que a videira é plantada, junto a ribeiro de águas, para dar fruto. Não é o conhecimento que temos que glorifica a Deus, mas o fruto que damos (Jo. 15.8).

Mas há outro aspecto da porta do vale, o tratamento de Deus conosco para nos fazer baixar à medida de Cristo. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido como disse o Senhor em Isaías, no capítulo 40, no verso 4. Se ficarmos apenas com o ensino isso nunca nos trará benefício. Na continuação do versículo ele diz: e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. Somos endireitados e aplainados no vale, no mundo.

Nós necessitamos ser endireitados, aplanados e abaixados por Deus e Cristo exaltado. A Palavra nos ensina que a ciência incha, mas o amor edifica (I Cor. 8.1). Se ficarmos somente dentro dos muros vamos apenas nos inchar, mas quando descemos ao vale, então as tribulações produzem a experiência, e a experiência a esperança e a esperança não traz confusão. Tudo isso o Senhor nos concede para conhecermos o amor que está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rom. 5.4). Necessitamos do vale para conhecermos o amor de Deus em nós.

Alguns irmãos falam do tratamento de irmãos através de outros irmãos na Igreja. Sinceramente eu não consigo ver assim. É verdade que isso acontece, mas creio que não deveria ser assim. Tanto é que a porta do monturo que veremos a seguir é para por para fora as coisas, as manias do velho homem e revestir do novo homem. Como disse Jesus, no mundo tereis aflições, e muitas são as aflições do justo, mas Ele venceu o mundo, por isso Ele nos livra de todas.

O Senhor não disse que na Igreja tereis aflições. Os irmãos me perdoem se estiver errado. É assim que vemos acontecer no meio do povo de Deus, mas creio que isso não é normal, não é da vontade de Deus. Creio que a Igreja é lugar de comunhão, de amor mútuo, companheirismo, de consolo, de estímulo, de humildade, de perdão, de suporte; um lugar de descanso para a alma porque se refere a Cristo. Não posso admitir que para crescermos temos que ferir uns aos outros, nos desprezar, nos julgar,  ou coisa parecida. Creio que deve ser ao contrário. Quando um membro sofre todos os membros sofrem com ele, e quando um membro se regozija, todos se regozijam com ele (I Cor. 12.26).

Este tratamento vem de qualquer coisa à parte do corpo de Cristo, mas não dele próprio. No corpo de Cristo é para termos cuidado uns dos outros (I Cor. 12.25), e não nos mordermos uns aos outros: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros" Gálatas 5.14-15. Por isso a porta do vale deve ser restaurada, senão a Igreja se torna o vale.

A porta do vale nos leva ao vale. Ninguém entra por esta porta. Apesar do vale colaborar para que as ovelhas entrem pela porta das ovelhas, elas não entram pela porta do vale, porque tem trancas e ferrolhos. O vale colabora porque a tristeza que é segundo Deus, que opera arrependimento para a salvação vem do vale (II Cor. 7.10). Deus levou Jacó para o Egito para tirar o povo de lá, mas a experiência que ele teve com Deus foi no vale de Jaboque (Gên. 32.22-24). Isto nos ensina que é sempre do vale que também viemos, depois no Egito, no deserto e depois Canaã, entrando pela porta das ovelhas, daí retornamos ao vale e ao Egito para sermos edificados.

Não só Jacó, mas também Abraão, Isaque, José e o próprio Jesus foram levados para o Egito. Deus é um Deus de montes, mas também é um Deus de vales (I Reis 20.28). Ele não somente faz nós andarmos nos lugares altos, mas também nos leva aos lugares férteis, para uma realidade de vida, onde verdadeiramente damos frutos. É no mundo que somos provados e aprovados, com o fim de sermos perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma (Tg. 1.3-4).

As experiências que temos no vale antes de entrarmos para dentro dos muros, isto é, as aflições, as dores, as tristezas que tivemos no mundo antes de entrarmos por Cristo para a glória dos filhos de Deus não tem nenhum sentido eterno. Só servem para a morte, porque a tristeza segundo o mundo opera a morte (II Cor. 7.10), mas quando somos membros do corpo de Cristo e saímos pela porta do vale, a experiência que ela nos leva se torna depois um eterno peso de glória, muito excelente (II Cor. 4.17).

Deus é um Deus de montes e de vales porque não aprova uma vida de aparência. Uma vida de sacerdócio de aparência externa, daqueles que dizem e não fazem. Que atam fardos pesados sobre as pessoas, mas nem com um dedo ajudam carregar. Uma vida que tem aparência de piedade, mas nega-lhe o poder. Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as suas obras (II Tim. 3.5, Tt 1.10). As suas obras são para serem vistas pelos homens. Gostam de serem chamados de mestres, mas não passam de sepulcros caiados (Mat 23).

A porta do vale é muito necessária porque não adiantaria conhecermos as coisas reveladas por Deus se elas não se tornarem realidade em nós. Muitas das coisas que o Senhor nos ensina só passam a ser entendidas no vale, na prática. Às vezes demoram anos para experimentarmos aquilo que nos foi revelado por Deus. Grande parte das coisas que o Senhor nos dá por revelação só poderão se tornar realidade quando aprendidas no vale.

A porta do vale também tem um aspecto precioso para a Igreja, porque depois ela traz a realidade para dentro das portas. O que ouvimos e nos é ensinado por Deus é tratado fora, no vale, para depois se tornar realidade para a Igreja. Na edificação do templo de Israel, as pedras eram lavradas fora, na pedreira. Quando ela vinha, já vinha para servir de edificação. O barulho de martelo não era ouvido no templo, somente na pedreira (I Reis 6.7).

A partir do momento que entramos pela porta das ovelhas, por Cristo para a vida cristã, somos impelidos a pregar o evangelho, a falar das grandezas daquele que nos tirou das trevas para a sua maravilhosa luz. Aí o Senhor começa a edificar a sua Igreja trazendo os seus filhos para as verdades que são desde o princípio e depois os leva para o vale, onde essas verdades se tornam realidade espiritual para a Igreja. Só então o Senhor começa a tirar as coisas que não pertencem ao novo homem, e isto iremos ver na próxima porta a ser restaurada, a porta do monturo.

Que o Senhor nos ensine por elas a ordem de sua restauração, da restauração do testemunho do Senhor, para que possamos compreender um pouco mais qual o processo a seguir. Continua...

 

Obs: Amados irmãos, não deixem de ler os versículos acima citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante desta meditação. Não é o texto escrito que tem valor, mas a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus. Amém.

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