A HERANÇA E A VIDA ETERNA

Como vimos anteriormente a diferença entre o Reino de Deus e o Reino dos céus, Deus também nos revela nas Escrituras uma diferença entre vida eterna e herança. A vida eterna está diretamente ligada ao Reino de Deus, e a herança ao Reino dos céus. Isto porque a vida eterna, diz respeito ao sacrifício de Cristo e à salvação que nos foi dada por graça. Já a herança, está ligada às obras, aos sofrimentos, e ao galardão dos filhos de Deus.

Nas Escrituras, tudo o que se refere à vida eterna, está completamente ligada ao sacrifício de Cristo e à salvação. A salvação é totalmente pela graça, por meio da fé, e isto não vem de nós, mas é dom de Deus (Efésios 2.8). Sobre a vida eterna Jesus nos diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai". O apóstolo Paulo também nos fala desta vida eterna quando diz: "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor". Disto, o apóstolo amado de Jesus também diz: "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida".

A vida eterna em nós, é um dom gratuito de Deus como nos ensina Romanos 6.23. Se é um dom gratuito, não depende absolutamente dos méritos humanos. Dom é uma dádiva, e esta dádiva não provém do homem, mas de Deus. A vida eterna não é dada por Deus por nenhuma obra que tenhamos feito, nem bem nem mal, mas segundo a Sua própria vontade e autoridade (João 5.21). Em João 10.28, Jesus nos diz que esta vida é eterna, e sendo eterna, uma vez dada por Deus, ninguém pode tirá-la de nós. Uma vez que alguém a possui, jamais a perderá, porque o Pai que nos deu é maior do que todos, e ninguém pode arrebatá-la da mão do Pai. A vida eterna, como nos diz I João 5.12, é a própria Pessoa de Jesus Cristo dentro de nós, como o selo de Deus, e o Espírito é penhor da Sua possessão (Efésios 1.13). A vida eterna nos é dada segundo o beneplácito, a anuência, a aprovação da Sua própria vontade, para o louvor da Sua Graça.

A vida eterna é dom de Deus, já a herança é uma vocação, e está totalmente relacionada com as obras dos santos e seus méritos. Podemos compreender através do ensino do Espírito Santo (I Coríntios 1.12-13), que a herança é o reino, e este reino a que Jesus se refere é o Reino Milenar de Cristo nesta terra, que o Pai lhe deu como herança: "Nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo" Hebreus 1.2. Pois, Jesus dirá aos que estão à sua direita:"Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" Mateus 25.34. Deus nos ensina isto em muitos lugares quando diz: "Levanta do pó o pobre, do monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para os fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, sobre elas pôs ele o mundo. Porque os malfeitores serão exterminados, mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. Pois aqueles que são abençoados pelo Senhor herdarão a terra, mas aqueles que são por ele amaldiçoados serão exterminados. Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre. Espera no Senhor, e segue o seu caminho, e ele te exaltará para herdares a terra. Tu o verás quando os ímpios forem exterminados. E todos os do teu povo serão justos; para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado" (I Samuel 2.8; Salmos 37.9, 22, 29, 34; Isaías 60.21).

O herdeiro da promessa é Jesus Cristo, quando Deus fez a fez a Abraão dizendo: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para te dar esta terra em herança Gênesis 15.7, e em Gálatas 3.16 Paulo nos diz: Ora, a Abraão e a seu descendente foram feitas as promessas; não diz: E a seus descendentes, como falando de muitos, mas como de um só: E a teu descendente, que é Cristo. Jesus Cristo é o herdeiro de todas as coisas, e nós como filhos de Deus, e irmãos de Jesus Cristo, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros juntamente com Cristo nesta herança. Isto nos confirma as Escrituras quando diz: " E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa". Gálatas 3.19. "O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados". Romanos 8.16-17. Esta herança exige uma condição, e esta condição é indicada na palavra "se", porque ela envolve neste caso o sofrimento juntamente com Cristo: "SE é certo que com ele padecemos...".

Mais uma vez Deus nos ensina pela Sua Palavra, que esta herança é a vocação para o Reino de Jesus, e este Reino será de mil anos nesta terra: "Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus" Efésios 5.5. O Reino de Deus e o Reino de Jesus Cristo são amplamente ensinados por Deus nas Escrituras, como também diferenciados. É nestes dois reinos que Deus nos dá a graça de diferenciar a vida eterna da herança. A vida eterna pertence ao Reino de Deus, e a herança ao Reino de Jesus. Deus nos mostra claramente em Sua Palavra, como pudemos ver em I Coríntios 15, nos versos 24 a 28, que o Reino será entregue a Jesus, o qual o devolverá ao Pai depois de certo tempo, e este tempo será de mil anos como podemos ver em Apocalipse 20.4.

Esta promessa foi feita a Abraão e ao seu descendente, e este descendente, segundo Deus, é Cristo (Gálatas 3.16): "Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, saindo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia... Eu vos introduzirei na terra que jurei dar a Abraão , a Isaque e a Jacó; e vo-la darei por herança. Eu sou Jeová. Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que te multipliques e possuas a terra por herança. Lembra-te de Abraão , de Isaque, e de Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo juraste, e lhes disseste: Multiplicarei os vossos descendentes como as estrelas do céu, e lhes darei toda esta terra de que tenho falado, e eles a possuirão por herança para sempre. E depois de os haver eu arrancado, tornarei, e me compadecerei deles, e os farei voltar cada um à sua herança, e cada um à sua terra. E produzirei descendência a Jacó, e a Judá um herdeiro dos meus montes; e os meus escolhidos herdarão a terra e os meus servos nela habitarão" (Hebreus 11.8; Êxodo 6.8, 23.30, 32.13; Jeremias 12.15; Isaías 65.9). Esta é a herança de Jacó prometida por Deus a nós.

A vida eterna é algo que nos é dada por Deus a partir do momento que nascemos de novo, agora a herança é a vocação de Deus em Cristo Jesus, e esta vocação é algo que se conquista, é para os vencedores, para aqueles que a receberão como recompensa, como galardão pela vitória sobre o mundo e o diabo. A vida eterna é dom de Deus, e não provém de nossos méritos, mas a herança é um prêmio; é o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3.13-14). O Apóstolo Paulo se refere a este prêmio quando diz: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só é que recebe o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta, exerce domínio próprio em todas as coisas; ora, eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível". I Coríntios 9.24-25.

Se ele neste caso está falando da salvação, então ela já não é mais pela graça, mas pelas obras. Se necessitamos correr para ganhar a salvação, logo o prêmio seria a salvação, e esta salvação então não seria por graça, mas por obras. Ele não está neste texto, e nem em muitos lugares se referindo a salvação, mas à herança, e esta só será dada aos vencedores. "Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com vara de ferro as regerá, quebrando-as do modo como são quebrados os vasos do oleiro, assim como eu recebi autoridade de meu Pai... Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono." Apocalipse 2.26-27, 3.21. Para vencer como nos diz o apóstolo Paulo, é necessário correr e lutar legitimamente; perseverar até o fim. Conservarmos firmes até o fim de nossa carreira, a confiança e a glória da esperança (Hb. 3.6).

A vida eterna é dada por Deus segundo a Sua vontade e autoridade, e quem a recebe jamais perecerá, mas a herança somente será dada aos vencedores, aos que receberem galardão: "E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo". I Coríntios 3.12-15. O galardão será a participação da herança, isto é, do Reino de Cristo como reis e sacerdotes sobre a terra, e o prejuízo será a exclusão dela. O texto das Escrituras que vimos acima, também nos ensinam que a vida eterna uma vez sendo dada a alguém, ele jamais a perde, mesmo pelo fogo não será queimada. Já o galardão, a herança, só será dada àquele que tiver as obras provadas pelo fogo, e elas não se queimarem. Se faz necessário lembrar mais uma vez que a vida eterna não se conquista por obras, é um dom de Deus por graça, e jamais se perde; mas a herança, que é a participação do Reino Milenar de Cristo, só será concedido àqueles que forem dignos, "Porque muitos serão chamados, mas poucos escolhidos" Mateus 22.14.

O apóstolo Paulo nos ensina também sobre isto, em Filipenses 3, dos versos 10 a 14, quando diz: "Para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte, para ver se de algum modo posso chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus". No verso 10 encontramos o apóstolo nos dizendo que ele só tinha um propósito em sua vida, que é conhecer a Jesus, e o poder da sua ressurreição, e a participação dos seus sofrimentos, conformando-se com Ele na Sua morte; e no verso 11, para ver se de algum modo podia chegar à ressurreição dentre os mortos. Logo em seguida ele nos afirma que ainda não a tinha alcançado, mas prosseguia para o alvo, para o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus. Esta vocação, este chamamento é a herança, é a participação juntamente com Jesus em seu Reino, e esta participação é um prêmio, e um prêmio que se conquista.

Em Romanos 11, no verso 29, Deus nos ensina que dom e a vocação são duas coisas distintas. Apesar delas serem sem arrependimento, o dom é a vida eterna como pudemos ver, e a vocação é o chamamento dos que possuem a vida eterna a alcançar a herança. A vocação também é sem arrependimento, porque Deus fez a promessa e é fiel para mantê-la. Em Efésios 1, no verso 18, Deus nos ensina que há para nós uma necessidade de conhecimento da esperança desta vocação. Somos vocacionados à santidade a partir do nosso novo nascimento e de recebermos por graça a vida eterna, (I Tess 4.3-8), e a dar fruto para Deus (Rom 7.4).

O livro de Hebreus nos ensina isso claramente quando faz a comparação do povo de Israel quando saiu do Egito. Eles saíram depois de sacrificarem o cordeiro pascal, atravessaram o mar vermelho, andaram pelo deserto com o propósito de herdarem a terra de Canaã, a terra da promessa. Mas Deus diz que não se agradou da maior parte deles, pelo que ficaram prostrados no deserto (I Cor. 10.5). O escritor de Hebreus nos fala em Hebreus 4.1-2 que diz: Portanto, tendo-nos sido deixada a promessa de entrarmos no seu descanso, temamos não haja algum de vós que pareça ter falhado. Porque também a nós foram pregadas as boas novas, assim como a eles; mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não chegou a ser unida com a fé, naqueles que a ouviram”.

Veja a comparação de nós com o povo de Israel! Eles saíram do Egito que representa o mundo, comeram do cordeiro pascal que representa o sacrifício de Cristo, passaram pelo mar que representa o nosso batismo, entraram no deserto que representa a nossa vida neste mundo com a promessa de entrarem na terra da promessa que representa o reino de Cristo, no seu descanso como vimos no tópico anterior. Isto nos mostra que mesmo sendo salvos e perdoados pela graça do sacrifício do Cordeiro, e batizados podemos ficar prostrados no deserto se não unirmos a fé às boas novas que nos foram pregadas. Há um repouso sabático para o povo de Deus, uma promessa, um reino que ainda não chegamos. Estamos ainda no deserto e necessitamos ouvir a voz do Espírito e obedecê-lo até o fim.

Temos que esclarecer bem este assunto para que não haja confusão. Como vimos a salvação é pela graça, e é eterna, mas para entrarmos na posse da terra temos que atravessar o deserto e possuir o reino. Não é conquistá-lo, mas possuir a herança que já nos foi dada. Quem conquistou para nós foi Jesus Cristo. Quem deixou a promessa de entrarmos no descanso é Deus, mas podemos como a nação de Israel ficar de fora se não unirmos a fé às coisas que temos ouvido. Hebreus não nos diz que temos que conquistar o reino, porque já temos recebido em Cristo, com todas as bençãos espirituais, um reino que não pode ser abalado, mesmo que Deus abale os céus e a terra (Hb. 12.28). É um reino que devemos apenas reter pela graça, e servir a Deus com reverência e santo temor.

Já estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo (Ef. 2.6). Não temos que conquistar isso, bem como a nossa entrada na Jerusalém Celestial. Já pertencemos a ela, já chegamos, somos cidadãos dela por herança em Cristo: “Mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos; universal assembleia e igreja dos primogênitos inscritos nos us, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel Hebreus 12.22-24.

Para Deus, pela promessa da palavra que saiu da sua boca e não pode voltar vazia, nós já chegamos, já nos foi dada, é nossa por herança quando recebemos a Cristo. Ele estará lá porque venceu, e se assentou no trono do Seu Pai; e a promessa para os que vencerem, os que atravessarem este deserto unindo a fé ao que temos ouvido se assentará também com Ele no seu reino. A suficiência para entrarmos neste repouso é apenas obediência, reverência e santo temor a Cristo. É um deserto, mas o Senhor fez a promessa de entrarmos no seu descanso, e Ele o fará. E durante este tempo, como Israel foi suprido em tudo por Deus no deserto, onde seus vestidos não rasgaram, nem suas sandálias se gastaram (Dt. 29.5), assim será conosco também. Temos que ter apenas o espírito que Calebe e Josué tinham, o espírito de fé nAquele que fez a promessa, e como justo que somos vivermos pela fé.

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