soldado, atleta e lavrador

 

 

Paulo quando escreve a sua segunda carta a Timóteo, o estimula e a nós, a corrermos com perseverança a carreira cristã que nos está proposta. Em I Coríntios no capítulo 9, no verso 24 diz: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis". Paulo não está dizendo neste verso acerca da salvação, porque se o prêmio for a salvação, já não é pela graça, mas pelas obras. E sabemos que ninguém será justificado pelas obras, mas pela fé em Jesus Cristo (Rom. 3.24). Paulo aqui está dizendo sobre o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo (Fil. 3.14).

Por isso Paulo nesta carta fala a Timóteo: "Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar legitimamente. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos" II Timóteo 2.3-6. A vida cristã começa com um novo nascimento, como uma criancinha em Cristo. Mas em Israel, todo homem acima de 30 anos deveria estar preparado para a guerra, e assim é com os filhos de Deus, porque sabemos que a nossa luta não é contra a carne, nem contra o sangue, mas sim contra principados e potestades, nos lugares celestiais (Ef. 6.12). O Senhor nos alista não porque somos um povo de guerra, um povo de conquistas, mas porque temos um inimigo que não cessa em sua luta, para não alcançarmos aquilo que fomos alcançados por Cristo (Fil. 3.12-13).

Como diz João em sua primeira carta, o jovem é forte, e vence o maligno, porque a Palavra de Deus está em vós (I Jo. 2.14). O jovem já não é mais uma criancinha, mas mesmo jovem não tem força em si mesmo para estas batalhas, por isso deve se fortalecer no Senhor e na força do seu poder (Ef. 6.10). Isto porque não temos escolha. A vida cristã não é seguida apenas de tempos de paz, mas principalmente de tempos de guerra (Ecl. 3.1 e 8b). E para este tempo temos que estar preparados, temos que estar exercitados e tomados de toda armadura de Deus (Ef. 3.13). Não uma armadura pessoal, porque a armadura de Deus não cabe em uma só pessoa, em um só membro do Corpo, mas em toda a Igreja.

Sim, porque cada cristão é alistado pelo Senhor para a guerra. Esta guerra não são as nossas pessoais, mas as guerras de Deus, por isso fomos alistados por Ele, para as guerras dEle. Estas guerras são do novo homem, do homem celestial, cuja cabeça está nos céus, e os pés aqui na terra. São as guerras contra a Igreja, contra Cristo e a futura esposa de Cristo. Isto é o que Satanás faz desde o princípio, porque ele sempre vê que pela fraqueza da mulher é que ele pode ganhar campo. Assim foi no Éden, e assim é também agora com a Igreja. Adão não foi enganado, mas Eva sim, e assim é também até hoje (I Tim. 2.14). No Éden, Adão não cuidou da sua mulher, mas Cristo cuida, a ensina e a alimenta no seu jardim, e não deixará que ela caia nas tentações do diabo.

Mas não temos só tempos de guerras, mas também temos tempos de paz. Mas os tempos de paz não são para que fiquemos relaxados. Como Paulo diz a Timóteo, não seremos coroados, ou participantes do reino de Cristo, se não corrermos legitimamente. Mesmo que não estejamos em guerra, temos que sempre estar nos exercitando; estar sempre correndo e exercitando para que quando vier a luta, não estejamos com os nossos sentidos atrofiados.

Todo atleta precisa estar sempre preparado, para que quando vier a competição, ele esteja bem fisicamente, para que não seja surpreendido pelo adversário. Assim também é com a carreira cristã, mas no sentido espiritual. Temos que estar sempre preparados, para que quando vier os tempos de guerra, não estejamos atrofiados espiritualmente e sejamos surpreendidos pelo inimigo em suas sutilezas. Porque como diz a Palavra, o inimigo se afasta até o tempo oportuno (Lc. 4.13). E qual é o tempo mais oportuno para ele? Quando estamos relaxados, quando estamos envolvidos com outras coisas que não seja as coisas do Senhor; em como havemos de agradar aquele que nos alistou para a guerra.

Se não estamos em guerra, temos que estar nos exercitando, nos exercitando na piedade que para tudo é proveitosa (I Tim. 4.8). Piedade é conhecimento de Cristo, é conhecê-lo em todos os nossos caminhos. Mas não somente um soldado e um atleta, mas também um lavrador. O povo de Deus sempre foi soldado, atleta e lavrador da terra. Nós não somos guerreiros por natureza, mas lavradores. A Igreja peleja as guerras de Deus nas regiões celestiais, mas tem uma função efetiva aqui na terra, o de semear a boa semente, o de lançar a semente do evangelho na terra. Sim, porque a Palavra de Deus é pão para quem come e semente para o que semeia (Isa. 55.10).

Lavradores exercitados na guerra, para quando o inimigo vier, estejam sujeitos a Deus, e preparados para resistir ao diabo. Por isso a Palavra tem o sentido de pão que é para alimento, mas também como semente para ser semeada. Se comermos ou deixarmos a semente guardada nunca teremos uma colheita. Não há como gozar depois dos frutos se não fizermos uma semeadura. Por isso o Senhor diz: "Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará... Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas" Ecl. 11.4 e 6.

O que é observar o vento, ou olhar para as nuvens? É ir atrás de doutrinas falsas e estranhas, e de homens que fazem grandes reboliços, mas que não tem um pingo sequer de água pura: "Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente... Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas" Efésios 4.14 e Judas 1.12.

O que Paulo fala a Timóteo e a nós é que todos nós somos lavradores por natureza, mas como temos um inimigo em comum, o Senhor tem  também que nos alistar para a guerra. As crianças não são alistadas, mas os jovens e os adultos sim. Mas se não estivermos lutando, temos que estar nos exercitando na piedade, e também lavrando a terra, semeando a boa semente para que depois possamos nos alegrar junto com Ele na ceifa. Por isso todo cristão é um soldado, um atleta e um lavrador; isto é sem exceção. Se não estivermos fazendo uma coisa, temos que estar fazendo outra, do contrário estaremos negligenciando as coisas do Senhor, e maldito todo aquele que fizer a obra do Senhor negligentemente (Jer. 48.10).

Porque se não estamos ajuntando com o Senhor, estamos espalhando, e se não estivermos correndo com perseverança, estaremos negligenciando e até negando o Senhor. Se perseverarmos, com Ele reinaremos; se o negarmos, Ele nos negará. Se formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-se a si mesmo.

No Senhor não há sim e não, mas sim sim, e não não, o que passa disso é de procedência maligna. Mas em todas as suas promessas, está em Cristo o sim, e por Ele o amém, para a glória de Deus Pai. 

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